sexta-feira, 9 de março de 2018

SAÚDE SUPLEMENTAR - IMAGINEM SE NÃO EXISTISSE! Norival Silva

Falar de “Regulação” em Saúde, significa entrar num tema conceitual ainda pouco conhecido na sua essência. Ainda em 1776, Adam Smith, já falava sobre a “mão invisível” do mercado. Nesta época, e ainda nos dias de hoje, predomina o consenso em torno de que uma das características do mercado regulado pela “mão invisível” é que no final ele sempre terminará de forma auto regulável, sem necessariamente ocorrer a intervenção do Estado. Normalmente, a este cabe garantir tão somente a ordem e legalidade, no cumprimento de prazos e qualidades comprometidas entre as partes consumidora e fornecedora. Claro que esta tese vale para mercados onde a concorrência é equilibrada, a informação é conhecida pelos atores e os mecanismos de mercado operam livremente. Falamos aqui do que a filosofia econômica define como sendo “mercado perfeito”.

Quando o Estado/ANS interfere num mercado, autorizado pela constituição federal, regulado por uma Lei Ordinária (9656/2000 – é bom lembrar que a CF não exigiu regulamentação do Artigo 199!), seu papel deveria ser o da manutenção do equilíbrio entre operadoras e consumidores, e não o de assumir a estatização dos recursos privados como se dele fosse. Quando isto ocorre, temos um mercado que se retrai, onera custos aos consumidores e não contribui para o desenvolvimento sócio-econômico do País e das pessoas. É nesse instante que também surgem as falácias e mitos criados pelos interesses de quem quer regular o que não pode ser regulado, que contribuem ainda mais para a oneração de quem financia pelo menos 60% dos planos de saúde privados no país, mas parece que não tem muita noção do fato. Basta ver a afirmação do Diretor Presidente Substituto da ANS, em entrevista à Folha de São Paulo no último dia 11/2/18: “ninguém mais aguenta pagar planos de Saúde!” – Esta frase, dita por quem disse, é no mínimo chocante, além de demonstrar que efetivamente a Diretoria da ANS, não tem noção do que vem a ser um sistema regulatório. Mais curioso ainda  é perceber que nenhum outro ator se manifestou sobre o tema. A frase do Presidente, pressupõe, que todos nós somos obrigados a ter um plano privado de saúde, e não é a ANS que a cada momento vem adotando medidas que geram custos no mercado. O único dispositivo legal que ainda é usado pela ANS para argumentar é o artigo 197 da CF, que estabelece a relevância do setor no contexto. Mas até esta discussão não importa, pelo menos no momento, pelo simples fato de que nenhum sistema público ou privado, funciona quando a sua lógica de organização está distorcida, como é o caso do Sistema Suplementar, e isto ninguém contesta. Onde fica o direito a “livre iniciativa do setor privado em investir na assistência à saude”? Onde fica o direito dos consumidores em “aderir livremente” a planos de saúde e de sair dele?”; Função “social” do setor suplementar? Este é outro “mito” que o pensamento estatizante quer nos impor passados mais de 30 anos de existência do SUS e planos privados. Todos os argumentos do mercado imperfeito, viraram uma falácia. Quem ainda atua no mercado baseado nestes princípios está quebrando, se consumindo, falindo.

Especialmente, no Brasil vivemos sob a égide de uma Agência que ao invés de cumprir seu papel de Fiscalizadora (que também é regulação) assume o papel de controlar preços (onde está o mito?), de regular oferta, depende dela quem o Plano Coletivo vai contratar, (onde está o mito?), é a própria ANS quem define o ROL de produtos e que, portanto, deveria também fornecer o conhecimento. Ou seja, pura falácia.

Apenas para reforçar esse argumento, me lembro de uma exposição feita por uma Gerente da ANS, há algum tempo na qual o Sistema de Saúde Brasileiro, foi definido como sendo um “Sistema Misto, em que o setor público e o privado coexistem no provimento, no financiamento, na demanda e na utilização dos serviços de saúde”. Na ocasião quis dizer ainda a palestrante que o Sistema Privado, de contrato individual ou coletivo é financiado com recursos das famílias e/ou dos empregadores (sic) e pagamento direto do bolso dos usuários no caso de planos individuais, como se as Operadoras não fizessem parte deste processo. Depois de tudo que ouvi neste mercado, chego à conclusão, de que a ANS e sua área técnica pensam assim mesmo. O sistema privado está dominado, sob controle, inclusive no recurso pelo Governo. Portanto este é o desafio maior do mercado, buscar um novo consenso, uma nova proposta, um novo Modelo. No qual, a função pública e privada, possam estar inseridas num só Sistema Brasileiro de Saúde, uma única Lei, com seus modelos de governança definidos, suas diretrizes de acesso organizadas na Lei, a complementariedade entre um e outro mais clarificadas, um sistema no qual todos os atores possam de fato participar do processo homologatório com regras de credenciamento para operadoras (isto é regular), epidemiológicas e econômicas sendo definidas num fórum de participação que deveria ser o Conselho Nacional de Saúde Suplementar – CONSU, que curiosamente, atualmente só tem membros do Governo tendo como Presidente o Ministro da Justiça ?(sic), isto também é regular. Um modelo que de fato possa posicionar a agencia reguladora num papel de efeito mediador do mercado, na defesa do interesse do consumidor, na garantia dos contratos estabelecidos e na sustentabilidade de um setor responsável atualmente por mais de 48 milhões de vida, desonerando o sistema público na ordem de 65 bilhões de reais, se o número do conselho federal de medicina, estiver certo. Imaginem se o setor privado deixasse de existir. O que o Mercado quer e precisa é de mais parceria da ANS e menos intervenção do estado em um sistema que nasceu para ser Livre, como manda a Constituição. Quanto mais crescer o mercado privado, maior será a capacidade e a resolutividade dos serviços do SUS. A ANS, de fato quer isto? Parece que não. Durante uma audiência com o atual Diretor Presidente, quando questionei os efeitos do ressarcimento, do novo Roll, das restrições a planos individuais, ele foi taxativo na resposta: “não falo sobre estes assuntos. Se quiser procure os Deputados e Senadores, são eles os responsáveis”, ele só esqueceu de dizer que o Ministério da Saúde, o Governo (do que ele faz parte – sera?) também são os responsáveis.

Ordem dada, ordem cumprida, vamos procurar os Deputados e os Senadores!

Norival R Silva
Governança
Março 2018 – 09
governanca@febraplan.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PUBLICAÇÕES MINISTERIO DA SAUDE

  Portaria MS-GM nº 67, de 26/01/23 DOU de 30/01/23 p.92 – seção 1 – nº 21 – Altera a Portaria GM/MS Nº 4.282, de 12 de dezembro de 2022, q...