segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

SAÚDE SUPLEMENTAR - IMAGINEM SE NA EXISTISSE - Norival R Silva

Falar de “Regulação”, significa entrar num tema conceitual ainda pouco conhecido na sua essência.
Ainda em 1776, Adam Smith, já falava sobre a “mão invisível” do mercado. Nesta época, e ainda nos dias de hoje, predomina o consenso em tordo de que uma das características do mercado regulado pela “mão invisível” é que no final ele sempre terminará de forma auto regulável, sem necessariamente ocorrer a intervenção do Estado. Normalmente, a este cabe garantir tão somente á ordem e legalidade, no cumprimento de prazos e qualidades comprometidas entre as partes consumidora e fornecedora. Claro que esta tese vale para mercados onde a concorrência é equilibrada, a informação é conhecida pelos atores e os mecanismos de mercado operam livremente. Falamos aqui do que a filosofia econômica define como sendo mercado perfeito.
Quando o Estado interfere num mercado, permeado por imperfeições: concorrência desequilibrada, monopólio, falta de acesso as informações, prática econômica fora de princípios éticos, seu papel deve ser da manutenção do equilíbrio e não o de assumir a estatização dos recursos privados como se dele fosse. Quando isto ocorre, temos um mercado que se retrai, onera custos aos consumidores e não contribui para o desenvolvimento sócio-econômico das pessoas. É nesse instante que também surgem as falácias e mitos criados pelos interesses de quem quer regular o que não pode ser regulado, que contribuem ainda mais para a oneração de quem financia pelo menos 60% dos planos de saúde privados no país, mas parece que não tem muita noção do fato. Basta ver a afirmação do Diretor Presidente Substituto da ANS, em entrevista à Folha de São Paulo no último dia 11/2/18: “ninguém mais aguenta pagar planos de Saúde!” – Esta frase, dita por quem disse, é no mínimo chocante, além de demonstrar que efetivamente a Diretoria da ANS, não tem noção do que vem a ser um sistema regulatório., também ficou sem resposta do mercado. A frase do Presidente, pressupõe, que todos nós somos obrigados a ter um plano privado de saúde, e não é a ANS que a cada momento vem adotando medidas que geram custos no mercado. O único dispositivo legal que ainda é usado pela ANS para argumentar é o artigo 197 da CF, que estabelece a relevância do setor no contexto. Mas até esta discussão não importa, pelo menos no momento, pelo simples fato de que nenhum sistema público ou privado, funciona quando a sua lógica de organização está distorcida, como é o caso do Sistema Suplementar, e isto ninguém contesta. Onde fica o direito a “livre iniciativa do setor privado em investir na assistência à saude”? Onde fica o direito dos consumidores em “aderir livremente” a planos de saúde e de sair dele?”; Função “social” do setor suplementar? Este é outro “mito” que o pensamento estatizante quer nos impor passados mais de 30 anos de existência do SUS e planos privados. Todos os argumentos do mercado imperfeito, viraram uma falácia. Quem ainda atua no mercado baseado nestes princípios está quebrando, se consumindo, falindo.
Especialmente, no Brasil vivemos sob a égide de uma Agência que ao invés de cumprir seu papel de Fiscalizadora (que também é regulação) assume o papel de controlar preços (onde está o mito?), de regular oferta, depende dela quem o Plano Coletivo vai contratar, (onde está o mito?), é a própria ANS quem define o ROL de produtos e que, portanto, deveria também fornecer o conhecimento. Ou seja, pura falácia.
Apenas para reforçar esse argumento, me lembro de uma exposição feita por uma Gerente da ANS, há algum tempo na qual o Sistema de Saúde Brasileiro, foi definido como sendo um “Sistema Misto, em que o setor público e o privado coexistem no provimento, no financiamento, na demanda e na utilização dos serviços de saúde”. Na ocasião quis dizer ainda a palestrante que o Sistema Privado, de contrato individual ou coletivo e financiado com recursos das famílias e/ou dos empregadores (sic) e pagamento direto do bolso dos usuários no caso de planos individuais, como se as Operadoras não fizessem parte deste processo. Depois de tudo que ouvi neste mercado, chego à conclusão, de que a ANS e sua área técnica pensam assim mesmo. O sistema privado está dominado, sob controle, inclusive no recurso pelo Governo. Portanto este é o desafio maior do mercado, buscar num novo consenso, uma nova proposta, um novo Modelo. No qual, a função pública e privada, possam estar inseridas numa só Sistema Brasileiro de Saúde, com seus modelos de governança definidos, suas diretrizes de acesso organizadas na Lei, a complementariedade entre um e outro mais clarificadas, um sistema no qual todos os atores possam de fato participar do processo homologatório com regras de credenciamento, epidemiológicas e econômicas sendo definidas num fórum de participação que deveria ser o Conselho Nacional de Saúde Suplementar – CONSU, que curiosamente, atualmente só tem membros do Governo tendo como Presidente o Ministro da Justiça ?(sic). Um modelo que de fato possa posicionar a agencia reguladora num papel de efeito mediador do mercado, na defesa do interesse do consumidor, na garantia dos contratos estabelecidos e na sustentabilidade de um setor responsável atualmente por mais de 48 milhões de vida, desonerando o sistema público de forma substancial. Imaginem se o setor privado deixasse de existir. O que o Mercado quer e precisa é de mais parceria da ANS e menos intervenção do estado em um sistema que nasceu para ser Livre, como manda a Constituição. Quanto mais crescer o mercado privado, maior será a capacidade e a resolutividade dos serviços do SUS. A ANS, de fato quer isto?


Norival R Silva
Consultor
Fevereiro 12.02.18




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