Há muito tempo ouvi
de um "guru" em gestao de saúde, Dr. João Candido (in memoriam), que a área
da Saúde representa a mais complexa de todas as políticas públicas e atividades
de gestão. Dizia Dr. Candido que o cenário é tão complexo que as vezes leva
gestores a se enveredar pelo caminho do indivíduo que quer escrever uma carta
de amor: começa sem saber o que dizer e termina sem saber o que disse...
Claro que não é
preciso ser muito “especialista” para entender que os Mercados de Saúde não se
compõem pelas características de um mercado tido como “perfeito”, no qual a
racionalidade de objetos e necessidades além do conhecimento sobre o “uso” por
parte do consumidor, sejam os componentes básicos. Ou seja, nenhuma das
condições de perfeita competição de mercado estará presente quando se fala em sistemas
de saúde, seja público, ou privado. No Sistema de Saúde Suplementar, deveríamos
ter Gestores (Operadoras) e prestadores (Hospitais, Profissionais, Produtores
de Insumos, Materiais e medicamentos), atuando com interesses comuns: resolver
o problema do consumidor e remunerar o capital, lógica natural do setor privado,
no qual todos os atores envolvidos nesta “cadeia” tenham resultados de
remuneração justos e atrativos para todos, do contrário ele entra em crise e se
desfaz. Então, o que está de fato ocorrendo no setor? Eu não tenho dúvida, a
questão é primordialmente regulatória. A ANS, o órgão que deveria assumir o
papel de árbitro, não sabe como começar o jogo e termina quase sempre
sem saber como ele terminou.
É neste ponto
que se torna visível a “fúria regulatória” da ANS, que se excede no “zelo”,
chegando ao ponto de querer transformar o capital privado como se fosse
público. Sem a menor participação do setor, introduz no sistema itens que inevitavelmente
irão produzir elevação de preços e de competição no mercado sem que o Governo
de uma forma geral se manifeste sobre o assunto. Assim, é fácil de entender
porque saímos de um cenário com mais de 1800 operadoras para chegarmos a 780 operadoras
ativas, números que ainda irão se alterar por conta das operadoras sob
intervenção. Já a segunda função da ANS, de ser o árbitro do mercado na
conciliação dos interesses dos atores envolvidos na “cadeia”, torna ainda mais
confuso o início e o fim da “carta de amor.
Aqui, preciso
finalizar esse texto senão corro o risco de não saber como terminá-lo. É
preciso deixar o registro que exigirá pelo menos mais dois artigos,
relacionados a questão estrutural e de função regulatória que está por exigir
uma agenda de reformas em primeiro lugar na Legislação e em segundo nas regras
e procedimentos que deveriam regular o mercado: Tabelas de preços
normatizadoras e atrativas para todos, olhar fiscalizador da ANS para a Rede
Prestadora de Serviços; ampliar a representatividade das operadoras de planos e
seguros de saúde (Grandes, Médias e Pequenas) no Conselho Nacional de Saúde
suplementar que deveria ficar subordinado ao Gabinete do Ministro da Saúde com
o papel de normatização do setor; uniformizar a atenção sobre planos individuais
e coletivos; menos conflitos de interesses entre fabricantes de insumos e
materiais que descaradamente induzem a rede de serviços a prescrição com preços
fora do mercado e incentivos paralelos.
As pessoas
ainda não se deram conta, que mantida a restrição orçamentária para 2018, vamos
caminhar para uma crise sem precedentes no Sistema Público de Saúde. Se o
Gestor Federal quer de fato desonerar o Sistema Público de Saúde (SUS), é
preciso mexer nos buracos negros da legislação atual: Lei 8080/90 e Lei 9656/06
pelos quais as irregularidades e condutas caminham e especialmente buscar uma
grande pacto federativo para garantias de cumprimento não só dos dispositivos
legais já existentes, mas especialmente a garantia de cumprimento das regras e
contratos pactuados livremente entre consumidores e operadores de saúde, que
através da Judicialização, de maneira imprevisível consome uma boa parte dos
recursos do setor. Preciso terminar dizendo que a retomada do crescimento do
setor suplementar, que nos últimos 5 anos perdeu mais de 3 milhões de usuários e
permanece estagnado nos dias de hoje, não se dará pela oferta de planos mais
acessíveis, mas sim pela renovação do processo de governança do mercado, posicionando
a ANS, como uma agência que de fato estimule a ampliação do Mercado, os
interesses dos usuários e a desoneração do SUS. Ao invés de se manter com sua esquizofrênica
“fúria regulatória”, exterminando pequenas e médias operadoras, gerando mais
encargos (tributos falseados) para o contratante de planos coletivos e se “debatendo”
para garantir sua própria sobrevivência, sem se preocupar com o inicio ou o fim
da carta de amor...
Norival R Silva
Consultor
Gestão Saúde
24/02/2018
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