Mais de 90
bilhões de reais é o movimento gerado pelo mercado privado de serviços de
assistência à saúde no Brasil. No contraditório, a função pública (SUS) baseado
em princípios de universalidade atribuído pela Constituição Federal os investimentos não passam de 80 bilhões de
reais, e independente do valor deveria ser suficiente ao atendimento do modelo
que se propõe. O fato é que vivemos um cenário cujo futuro está a exigir do
Governo e de todos os agentes do setor privado inteligência de reorganização e
retomada do crescimento.
Na sua função
pública o Sistema Único de Saúde, relativamente organizado no nível primário de
atenção ainda não conseguiu dar solução ao gargalo de represamento da oferta de
serviços de média complexidade ambulatorial, em consultas, exames e terapias,
para não falar dos conflitos de mão de obra, imprevisibilidade legal, e todos
aqueles gerados pela utopia da universalidade que termina criando o principio
do tudo para todos sem capacidade de custeio dos seus efeitos.
Por sua vez, o sistema
suplementar vive longo período de estagnação sem sinais de recuperação. Durante
os últimos 4 anos mais de 3 milhões de pessoas deixaram de receber cobertura de
algum plano de saúde. Não fosse a pequena variação dos Planos Odontológicos, a
atenção Assistencial Médica estaria em gande declínio. Este cenário, foi gerado
(e continua sendo), por engessamento regulatório do Governo sobre a assistência
privada, que siquer foi concedida; Inflação de serviços médicos que a cada ano
mais se aproximam de 20% num cenário econômico de 4% a 5% de inflação oficial,
torna o financiamento de Planos de Saúde por pessoa jurídica como a segunda
maior despesa, gerando cancelamentos; incapacidade dos beneficiários de pagar a
co-participação que alcançou seus limites fora de qualquer lógica. Enfim,
chegamos no ponto de ebulição.
Não creio que os Planos
de Saúde, pelos menos nos modelos que hoje existem, possam continuar existindo.
Claro que as Cooperativas Médicas, em tese estariam fora desta análise (será?).
O mercado já está a procura de alguma solução que possa gerar mais equilíbrio e
mais resultados. Pelo menos 65% da cobertura nacional de planos de saúde é
financiada por Pessoas Jurídicas, e serão estas que certamente irao desenvolver
alguma alternativa diferenciada para reduzir seus custos. Neste caso, acredito
na tese da contra-prestação de servicos, na qual o tomador (as empresas)
através de profissionais negociadores, contratualizam serviços hospitalares e
ambulatoriais, com pelo menos 30% na redução dos custos atuais. Este é o modelo
que está em curso em grandes empresas americanas, e não duvido logo estará no
Brasil. A solução vai exigir os “Health Bussines Professional”
qualificados em regulação prudencial com
alta performance em negociação de serviços de saúde.
Volume gera negociação,
negociação gera menor preco. Esta é a lógica que deverá nortear as relações
neste mercado, talvez o mais complexo de todos os outros. Quando alguém decide
comprar um “plano de saúde” em última análise está comprando um serviço no risco
de uso, supostamente provisionando recursos para quando for preciso. Se uma
pessoa jurídica decide ofecerecer o “benefício” da assistência à saúde dos
funcionários, não necessariamente a escolha de um plano de saúde será a escolha
de menor custo e maior resolução. Com base nos indicadores de utilização que
apontam números regulares (num ciclo de 12 meses 10ª 15% da carteira ou da
população de um território irá usar servicos de internação hospitalar enquanto
que 30% a 50% irá usar serviços ambulatoriais), é possível negociar preços de
compra de serviços de forma direta com prestadores, com boas chances de se
reduzir a conta global em pelo menos 20% dos valores que se praticam. Utopia? Simples,
neste caso estou pagando pelo uso e não pelo risco. No Plano de Saúde, a conta
é em nome do 100% com ou sem uso. Utopia? É pagar para ver...
Norival
Silva
Consultor
Governança
e Marketing em Saúde
Joinville 26/12/2019