domingo, 1 de julho de 2018

Novas Perguntas e Novos Desafios sobre o SUS?

Norival R Silva

Depois de algum tempo sem usar minhas madrugadas, hoje voltei a ficar me interrogando é claro, sobre o Sistema de Saúde no Brasil.

Tentei rebuscar novas perguntas e novos desafios, mas nao tem jeito. São sempre os mesmos. Nestes últimos dias, interagi com muitos prefeitos e secretários de finanças em eventos direcionados para discutir o processo de governança financeira do SUS. Nestes eventos o que mais me chama atenção é o desvio de função na forma de pensar do principal dirigente do município: O Prefeito! claro, pior ainda quando o Secretário de Saúde compartilha do mesmo modo de pensar. Me refiro a "visão" que o Prefeito tem do sistema de saúde enquanto "função" principal do SUS. Em todos os eventos o que se percebe é o debate priorizado em torno do "peso político" que representa o SUS e a falta de recursos, conflitos com usuários, falta de médicos e outros profissionais, etc. É raro acompanhar uma discussão que racionalize a agenda do debate a partir daquilo que de fato interessa para o principal interessado: o Usuário! O Usuário do SUS, nao está preocupado se o "prédio" é alugado ou próprio. Se a consulta está a 1 km ou a 10 km de distância. Ele só quer a garantia de que vai ter a consulta!

Portanto, já a muito tempo que não tenho dúvidas sobre este cenário. Quando falei a primeira vez sobre esta visão com o Prefeito Marco Tebaldi, em Joinville, ele dizia: Norival, agora entendi: o "foco" do SUS deve estar na Prestação de Serviços que é o que de fato interessa ao usuário”. Qualquer outra visão será sempre secundária e sem efetividade.

Já me cansei de participar de reuniões, de consórcios por exemplo, nas quais os Prefeitos, debatem sobre tudo, estrutura dos consórcios, rateio financeiro, entre outros assuntos. Também raramente vejo a reunião se focar por exemplo numa questão elementar: Qual é a demanda represada de exames, consultas e outros procedimentos de média complexidade? Como fazer para utilizar aqueles recursos que estão disponíveis no FMS, sem despesas consignadas, para zerar tal demanda?

Não há usuário que consiga compreender como é possível ele estar esperando por uma consulta especializada há mais de 6 meses, estando o gestor do SUS com recursos sobrando nas suas contas? O gestor mais "burocrata" dirá: isto nao é bem assim, tem restrições de uso nos recursos. Todos os Secretários de Saúde que assumiram o risco em favor dos usuários, fazendo a reprogramação do uso dos recursos, usando os tramites do Conselho Municipal de Saúde, não sofreram qualquer tipo de restrição. Até porque a própria normativa descriminaliza o uso de recursos de forma diferente da programada. Será possível que haverá alguma instancia que cegamente irá punir um gestor público que agiu de forma tansparente em favor do usuário?

Estamos vivendo sob égide de uma Portaria (3992/17) implantada às pressas, que deveria flexibilizar objetivamente o uso dos recursos mas que terminou por criar uma gigantesca confusão apropriada apenas aos burocratas de plantão. Até “novas fórmulas de programação orçamentária foram criadas”, para confundir ainda mais. Quem sabe o novo Ministro, resolva corrigir os conflitos de aplicação dos recursos, tornando o processo transparente em termos de flexibilização. Reprogramação de recursos entre as fontes de custeio, mais clareza sobre os recursos gerados em unidades próprias, que deveriam ser considerados livres, permissão para uso de recursos de custeio em pequenas obras de reformas e ampliações, como era permitido na PT 204. Compra de equipamentos e veículos com recursos de custeio que efetivamente "sobraram" no orçamento, especialmente para uso na conectividade de transporte tão necessário em municípios pequenos entre a AB e os serviços de Média Complexidade, que as vezes estão alocados regionalmente.

Enfim, o dia está quase amanhecendo e o SUS, continua rendendo motivos para eventos e reuniões de consultoria em todos os momentos. Nestes dois meses, faltou agenda! (sic).

Norival R Silva

Consultor Sênior

Governança & Marketing em Saúde

01Julho2018

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